sábado, 17 de julho de 2010

Para as Calendas Gregas?

QUASE DOIS MILHÕES de cidadãos se manifestaram contra toda e qualquer manobra no Congresso Nacional para impedir ou adiar a aprovação do projeto FICHA LIMPA. Juristas apoiaram. Um movimento inovador prenhe de esperança chamado Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral suscitou novas esperanças por atacar exatamente o vetor mais importante do processo, a inércia do cidadão.

Ninguém pareceu temer que a ameaça poderia estar no próprio governo. Mas foi de lá que veio através do líder do governo no Senado esta aguda agressão: [Ficha Limpa] “Não é um projeto do governo, é da Sociedade.” E de ninguém menor que o imensamente influente presidente da República, quando declarou que os interessados em impedir o projeto ficha limpa podiam ser “vítimas de denúncias insinuosas”. Esse fato, e suas implicações, interpretado como um apoio aos fichas-sujas, foi resumido competentemente pelo articulista Luiz Garcia, no artigo Sem Esperança, no Jornal “O Globo” do dia 14 de maio de 2010, p. 7: “até a enfática e inesperada tomada de posição [ do governo], havia alguma esperança de que a lei moralizadora passasse no Senado, fosse sancionada por Lula e vigorasse nas eleições deste ano. Não existe mais: os fichas-sujas são mais importante para o Palácio do Planalto do se poderia imaginar ou temer.”

Separar o interesse da sociedade do interesse do governo é imoral no pensamento e nas ações escusas, declarar isso publicamente é inclassificável. Todavia, como disse no mesmo jornal, no mesmo dia, na seção dos leitores, o cidadão Mauro Raja Gabaglia Lins: “Eu sempre achei que os políticos representam os anseios da sociedade, mas pelo visto isso mudou desde que o PT chegou ao poder. Mesmo assim não perdi a fé: o Brasil é muito maior que Brasília”.

O Projeto passou. Ficha Limpa agora é lei. O cidadão Mauro R. Gabaglia Lins teve a sua esperança justificada. Valeu a pena manter a esperança. Mas não tenho ilusões, esses políticos que aí estão, em sua maioria absoluta, são irrecuperáveis. A Justiça não alcançou todos os sujos. A nossa necessidade maior não é um Congresso de Fichas-limpas, mas um Congresso limpo. E a única maneira de ter um congresso de gente íntegra é a iniciativa e providência da própria sociedade: voto consciente. Um desafio muito maior do que o de pressionar o Congresso Nacional por uma boa lei. O resultado da conscientização do eleitor é um caminho muito mais certo e seguro. E mais abrangente. Mover-se em favor disso, junto a todos os que conhecemos, é um dever urgente. Uma boa lei é necessária, mas é insuficiente. Não há margem para dúvidas, se continuarmos entregando a vida aos “cuidados do regimento” dos políticos profissionais dos Partidos que conhecemos e abominamos, toda esperança de ética na política, tem destino certo: as calendas gregas!